Uma nova praga chegou ao Brasil e apesar de já ser conhecida na Austrália e nos continentes Asiático e Africano, tem gerado dúvidas e receios aos agricultores. Na safra passada, a helicoverpa armigera atingiu de forma severa as lavouras brasileiras, principalmente da Bahia, e as formas de manejo ainda estão sendo analisadas e pesquisadas. O momento é de atenção e olhos totalmente voltados para a lavoura.
O engenheiro agrônomo Joaquim Mariano Costa, chefe da Fazenda Experimental Coamo, diz que com a chegada dessa praga e o pouco conhecimento que, até então se tinha, a pesquisa passou a concentrar esforços para compreender a gravidade e as formas de manejo. “Treinamos toda nossa área técnica para localizar ovos [da helicoverpa] nas plantas e reforçamos a importância da tecnologia de aplicação e do Manejo Integrado de Pragas [MIP], bem como a necessidade de o agricultor monitorar constantemente a lavoura”, revela.
Diante da situação, a Coamo tem capacitado a equipe técnica para prestar assistência de qualidade a todo quadro social. Para Joaquim, o cooperado deve ficar atento e, aqueles que ainda não têm condições de distinguir o que é essa lagarta das demais que já conhecem, devem procurar o agrônomo do Detec mais próximo.
Costa ainda aconselha o cooperado a não apavorar-se, mas sim atentar-se às lavouras e não deixar de acompanhá-las. “Ainda não se tem muito conhecimento sobre como lidar com esse problema. Foi assim também com a buva e com a ferrugem, e hoje o produtor já está acostumado a lidar com elas. No final vamos nos acertando e aprendendo. Mas, como é uma novidade e as notícias do exterior são graves, temos que estar em permanente acompanhamento”, alerta.
Nos últimos dois meses, o Departamento de Assistência Técnica (Detec) da Coamo recebeu constantes treinamentos com pesquisadores de vários órgãos e instituições de pesquisas. De acordo com o gerente de Assistência Técnica, Marcelo Sumiya, o objetivo foi capacitar os técnicos para que possam orientar e recomendar aos cooperados o melhor manejo contra a praga. “Com isso, nosso departamento técnico terá mais segurança em recomendar e o cooperado em receber a orientação”, frisa.
De acordo com ele, um dos pontos mais importante nesse momento é a utilização de produtos com eficiência e a aplicação no momento correto, aliado as tecnologias e manejos já desenvolvidos ao longo do tempo. “São ações que vão interligando e que ajudarão o cooperado a controlar essa nova praga”, frisa.
A Helicoverpa armigera é considerada uma praga polífaga, ou seja, ela se alimenta de várias culturas, portanto, são mais difíceis de serem controladas, já que é abundante a oferta de alimentos durante todo o ano. Em Dourados (MS), a praga foi encontrada em plantas de buva. De acordo com o engenheiro agrônomo da Coamo, Fernando Mignoso, o fato foi registrado em pelo menos duas propriedades de cooperados em Dourados.
De acordo com o agrônomo, para o controle efetivo da praga deve-se utilizar de várias táticas de controle. “O foco é no manejo integrado de pragas (MIP). O sucesso de controle está no monitoramento das áreas agrícolas. Antes do plantio da soja deve eliminar eventuais hospedeiros como plantas tigueras e plantas daninhas”, observa e ressalta que após a implantação da lavoura o cooperado deve recorrer ao pano-de-batida. “É uma ferramenta que verifica a presença da praga, qual população e qual estágio de desenvolvimento. Neste momento o MIP é fundamental e deve ser adotado pelos cooperados”, pondera.
Ele diz ainda que nenhuma ação de controle é efetiva se todos os produtores não trabalharem em grupo. “Se um produtor efetuar os manejos e seu vizinho não, a praga vai estar presente da mesma forma, pois é altamente móvel. Então, um vizinho deve fiscalizar o outro.”
O pesquisador da Embrapa/Soja, Daniel Ricardo Sosa Gomes, observa que a helicoverpa tem provocado danos ainda na implantação da soja atacando o ciclo vegetativo e reprodutivo. Ele orienta que o agricultor precisa aprender a reconhecê-la. “Ela é muito parecida com a lagarta da espiga do milho, a lagarta helicoverpa zea. Na soja, normalmente, podem ser heliothis virescens ou a helicoverpa armigera”, explica.
Segundo o pesquisador, é essencial que o agricultor visite a lavoura durante todo o ciclo. “Quando a soja está na fase mais avançada e é possível, utilize o método do pano de batida e faça a amostragem. Porém, quando as plantas são pequenas é preciso visitar as áreas e observar se há folha comida, brotos atacados e dar mais atenção, principalmente em plantas pequenas com as folhas dobradas onde normalmente a helicoverpa fica escondida”, ressalta Gomes.
As populações de helicoverpa já estão aparecendo em muitos lugares. Para Gomes, o perigo é quando começam a atacar o brotos, no caso da soja, quando atacam o broto apical, é onde pode acontecer a perda de produtividade. “O agricultor tem que ficar em alerta e ter o ‘pé no chão’, de modo que não aplique produtos de forma desnecessária. Tem que ter um acompanhamento técnico para reconhecer a espécie e a medida certa a ser adotada”, constata o pesquisador da Embrapa.
O pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Walter Jorge dos Santos, recomenda que os agricultores evitem deixar qualquer tipo de planta no campo que possam servir de alimentos e proliferação das lagartas. “Essa praga, como todo ser vivo, só sobrevive porque come. Quanto maior a oferta de alimento, maior será a proliferação. A lagarta alimenta de vários tipos de plantas o que facilita a sobrevivência e isso deve aumentar ainda mais a preocupação. Com essa praga não pode ter descuidos”, frisa.
Segundo ele, o monitoramento deve ser constante e a dica é para que sejam verificadas pequenos orifícios nas folhas. “Se não encontrar vaquinha ou outra praga maior que possa ter causado o dano é bom olhar com olhar mais criterioso para ver se não tem lagartas pequenas. É importante sempre buscar assistência técnica dos agrônomos que estão capacitados para orientar a melhor saída”, diz.
A professora Cecília Czepak, da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG), observa que o monitoramento é para evitar que o agricultor faça aplicações desnecessárias. “O fator de ter lagarta na lavoura não quer dizer que deve se fazer aplicação, mas ser levado em consideração a quantidade delas.”
Outro ponto importante, segundo a professora, é o estágio da praga, que quanto menor mais fácil será o controle. “Não podemos apavorar o produtor, temos que alertá-lo. Ainda estamos aprendendo sobre essa nova praga e o agrônomo tem papel fundamental de orientar sobre a melhor forma de agir, seja na hora de plantar, no decorrer do plantio e durante as fases vegetativas e reprodutivas da lavouras.”
Ela diz que o monitoramento depende de cada região e da fase da soja. Na fase vegetativa o agricultor deve percorrer a área pelo menos uma vez por semana enquanto que no estágio reprodutivo da soja isso deve ocorrer no mínimo duas vezes por semana.
É considerada uma praga polífaga, ou seja, ela se alimenta de várias culturas, portanto, são mais difíceis de serem controladas, já que é abundante a oferta de alimentos durante todo o ano. É por isso que a melhor forma de lidar com essa situação é pensando no manejo integrado de pragas de todo o sistema agrícola. A utilização inadequada de inseticidas sem observar outras táticas de manejo pode agravar ainda mais o problema.
Fonte: Embrapa
Mais informações podem ser obtidas no site: www.embrapa.br/helicoverpa-soja